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Candela Varas

Ilhas e Ilhéus

Curadoria de cinema

Num sentido metafórico, as ilhas e os Ilhéus podem representar zonas temporalmente autónomas, lugares íntimos onde as personagens se encontram, se refugiam e se revelam.

Este ano apresentamos um grupo de filmes marcados pelos ambientes de verão que trazem sempre consigo o calor e as férias. Sentimos nestes filmes essa suspensão temporal única da qual não queremos sair. Esses lugares suspensos e periféricos também podem remeter ao afastamento e à desconexão. O calor nem sempre é sinónimo de júbilo, também nos avisa da desertificação que avança inexoravelmente. No entanto, todos estes filmes estão talhados com o tempo e o ritmo do quotidiano. Alguns deles sublinham a relação pai-filha, inclusive de pais que estão ausentes ou desapareceram. Filmes narrados com base na memória ou focados no presente mais absoluto. Um dos documentários surge como um jogo que tem como pano de fundo sonoro, a floresta tropical. Neste filme, que não pretendia ser filme, não se guarda material cinematográfico. Ao invés, as escolhas fazem-se no próprio local, como se de um jogo se tratasse. Mesmo ao lado, encontramos um documentário que trabalha com um material completamente oposto, material de arquivo da grande cantora cabo-verdiana, Cesária Évora.


Mas, uma coisa é importante enfatizar. Este tipo de lugares do refúgio, do isolamento ou enclausuramento, vestígios de um passado literário do gótico feminino, aqui, em absoluto determinam as personagens; estas mulheres saem das ilhas para o mundo com uma vigorosa pulsão de vida.