24 Jun a 16 Jul
Desde há 5 anos que acompanho de perto (às vezes demasiado perto segundo alguns encenadores) todas as actividades do “Lavrar o Mar” e do seu irmão mais novo o “Lavrar o Mira e a Lagoa”. Numa relação de extrema cumplicidade fui sendo impregnado com os constantes diálogos visuais, a interacção com o público, as ubíquas acrobacias, as eloquentes poesias… Eu estou lá sempre, a ver, a trabalhar, a absorver, não tão invisível como gosto, mas sempre a tentar criar algo, enquanto autor, que alcance, atinja e possa causar reflexão no receptor.
Como tenho referido diversas vezes este percurso, em camadas, pelos territórios destes concelhos do sudoeste português e estes espectáculos, leva-me em direcções que me aguçam os sentidos e fazem-me deslizar para paisagens onde a linha do horizonte nem sempre fica entre o céu e a terra.
É sobre esta subjectividade que me debruço, entre o escuro e o quase escuro, saltando de sombra em sombra, correndo devagar e caminhando depressa, adaptando o meu ritmo de registo à cadência dos espectáculos… viajo, tacteio, saboreio e absorvo o que me passa pelos sentidos.
No meu livro “Lugares Pouco Comuns” citei o filósofo Vilém Flusser: «(…) O vaguear do olhar é circular. Tende a voltar para contemplar elementos já vistos. (…)» E ao longo dos anos, cada vez mais, tendo a voltar… A voltar aos mesmos lugares, aos mesmos livros, aos mesmos filmes, aos mesmos espectáculos… chegar cedo, sentir o lugar e os intervenientes e... desaparecer camuflado atrás da lente.
A definição, não exclusivamente bioquímica, de osmose (“Influência ou penetração mútua entre duas ou mais coisas ou ideias.”) é a génese deste ensaio. É exactamente sobre esta definição que trata este conjunto de imagens. É a minha forma de homenagear todos os intervenientes deste projecto. Devolvendo-lhes as suas acções através da minha reacção.